Cinema: Querido John (Autismo X Aspeger)
O Filme “Querido John” recente sucesso nos cinema inspirado no livro de Nicholas Sparks nos chamou atenção por abordar sobre a síndrome autista e de aspeger, síndromes muito parecidas.
Os telespectadores sentem logo uma certa estranheza ao ver o comportamento dos personagens Allan e do pai de John, principalmente no que tange os relacionamentos sociais. O pai de John é metódico, tem horários pra tudo, seus dias são sempre iguais e tem um apreço muito grande por sua coleção de moedas. Já Allan é uma criança que não consegue estabelecer relações de amizades com mais ninguém a não ser com Tim e Savannah.
Esses personagens intrigam as pessoas que se perguntam: O que será que eles tem? Por que apresentam comportamentos diferenciados?
Os sintomas apresentados pelos personagens são justamente as características das duas síndromes especificas: a síndrome autista e a síndrome de aspeger (autismo leve).
O autismo é um transtorno definido por alterações perceptíveis por volta dos três anos de idade. Caracteriza-se por perda na qualidade da comunicação, na interação social e no uso da imaginação, pode-se observar também a limitação das relações humanas e com o mundo externo. Allan, o personagem caracterizado como autista tem seu relacionamento bem restrito e sua fala é pobre, não interage com o mundo à sua volta.
De acordo com a CID-10*, o autismo infantil se apresenta por um transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes dos três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno é acompanhado, por exemplo, de fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (auto-agressividade).
Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo usualmente exibem algumas das características listadas a seguir:
1. Dificuldade de relacionamento com outras crianças;
2. Pouco ou nenhum contato visual
3. Preferência pela solidão; modos arredios
4. Ausência de resposta aos métodos normais de ensino
5. Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina
6. Não tem real medo do perigo
7. Recusa colo ou afagos
8. Age como se estivesse surdo
9. Dificuldade em se expressar - usa gesticular e apontar no lugar de palavras
10. Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente
Devemos salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes sintomas, porém a maioria dos sintomas está presente nos primeiros anos de vida da criança e podem variar de leve a grave.
No filme, o pai de John tinha obsessão por moedas que eram tratadas como seu maior bem e apenas por meio desse interesse que conseguia estabelecer alguns laços, como aconteceu com Savannah que conseguiu se aproximar dele se interessando também pelo tema. Essa característica está relacionada com a síndrome de Asperger.
As crianças com asperger mostram em idade pré escolar, um interesse obsessivo por uma área específica como matemática, por exemplo, querendo aprender tudo que for possível sobre o tema e tendendo a insistir nisso em conversas e jogos. Esses interesses podem persistir até a fase adulta.
John a princípio não aceitava que seu pai tinha necessidades especiais que poderiam ser amenizadas com um tratamento adequado, o que o levou a não compreendê-lo durante muitos anos. Apenas quando tomou consciência que seus sintomas eram característicos de uma doença e não por vontade própria passou a aceitá-lo, melhorando o relacionamento entre eles. Diferente de Allan, que era compreendido e tinha tratamentos adequados as suas necessidades, o que lhe proporcionou uma vida saudável e feliz desde o começo.

Notas:
CID-10 é a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Filme: Querido John
Elenco: Channing Tatum, Amanda Seyfried, Henry Thomas, Richard Jenkins, Scott Porter, Luke Benward.
Direção: Lasse Hallström
Gênero: Romance
Sinopse: Querido John conta a história de John Tyree e de Savannah Curtis. Durante sete tumultuosos anos, o casal é separado pelas missões cada vez mais perigosas de John. Apesar de se encontrarem apenas esporadicamente, o casal mantém o contato por meio de uma enxurrada de cartas de amor. Essa correspondência acaba por provocar uma situação com consequências nefastas.




Fontes:
Influência na Internet e o Autismo nas Redes Sociais.
A internet foi o principal meio de contato com as pessoas para o desenvolvimento desse trabalho. Para isso realizamos vários tipos de abordagens e pesquisas principalmente através das redes sociais:
* A primeira parte foi pesquisar na web sobre o autismo. Encontramos realmente muita informação. A maioria das instituições que atendem autistas possui site, como a página da ADACAMP de Campinas. Já postamos aqui os links mais interessantes encontrados. (veja aqui) Além disso, vários blogs postaram sobre a polêmica envolvendo a MTV, apesar desses blogs não serem específicos sobre autismo, percebemos o interesse sobre o assunto e notamos a carência de informações corretas.
* Para a captação dos depoimentos, lançamos em nossos perfis particulares mensagens informando nossos amigos e contatos que procurávamos pessoas com autismo ou que convivem com elas. Recebemos vários retornos, como os depoimentos das mães Karina e Juliana, já postados aqui.


* Entramos em contato por email com profissionais e conseguimos alguns relatos e entrevistas, como o depoimento da fonoaudióloga Lídia Lange e as dicas de livros do diretor comercial da Livromédico.com.
* Também através da internet descobrimos eventos relacionados ao assunto.
* Nas redes sociais o assunto é abordado ainda timidamente, a maioria das páginas são de instituições, o mesmo acontece no Twitter. No facebook encontramos além das páginas das instituições grupos de discussões, no entanto são grupos liderados por pessoas de outros países como Espanha e Portugal.
Considerando o pouco tempo desde a concepção e a execução desse trabalho até o momento, acreditamos não ter consigo abranger a ampla influência da Internet na vida das pessoas com autismo. Atualizaremos essas informações sempre que novos dados surgirem.
Depoimento: Trabalho de fono por Lídia Lange
Tenho 34 anos e sou fonoaudióloga formada pela Puc-Campinas e atendo em Campinas/SP. Já trabalhei com autismo. No momento não estou atendendo nenhum caso, mas tenho interesse e disposição para atender novos casos. Acredito que para o autismo, os estímulos são essenciais para o desenvolvimento das habilidades de comunicação.
O caso que vou relatar é sobre uma garotinha que com 3 anos ainda não falava. Ela apresentava comportamentos diferentes para a idade e não fazia contato visual, por exemplo, ela dançava de costas para mim.
O atendimento foi feito 2 vezez por semana.
Trabalhamos a contrução da linguagem e atividades da vida diária.
Para eles é muito importante ter uma rotina, pois situações diferentes geram muito stress. As rotinas devem ser para o dia e para a noite.
Estimular a comunicação através da música ajuda muito!
Com o decorrer do atendimento ela começo a falar e aprendeu o alfabeto. Ela é muito inteligente e começou os estudos em escola regular, interage com as outras crianças. Ela sabe fazer coisas que as crianças da idade dela não conseguem.


Para finalizar gostaria de recomendar a leitura do extraordinário livro O Estranho Caso do Cachorro Morto, de Mark Haddon. O livro revela a forma como o autor, um menino  autista de 15 anos, se sente perante a vida e o mundo.

Lídia Lange, fonoaudióloga - Campinas/SP
E-mail de contato: lidia.lange@globo.com

* depoimento enviado exclusivamente para nosso blog.
Depoimento: Meu irmão Thiago por Fabiana Martelotte
Meu nome é Fabiana e sou irmã de um jovem Autista: o Thiago, de 14 anos.
Bem, o que nos chamou a atenção foi que o Thiago começou a falar mas parou e em torno de 2 anos de idade ele começou a ler! Além disso gostava de programas comerciais de televisão e ficava o dia todo assistindo apenas isso. Lia pequenas palavras porque as ouvia na televisão e quando via escrito sabia quais eram. Na verdade minha avó sinalizou essas questões que considerou 'diferentes' para a idade dele e todos reparamos também. Começamos a buscar ajuda para descobrir se havia algo de especial.
Nessa caminhada passamos por alguns especialistas. No início uma Fono e uma Psicóloga nos marcaram com sua dedicação mas um Neurologista insistia em dizer que ele estava "em cima do muro". Essa explicação nos marcou bastante por não transmitir nenhuma orientação. Conhecemos então a Neurologista que até hoje nos atende: Dra. Carla Gikovate. Ela que nos comunicou o diagnóstico de Autismo Leve e consideramos a Dra Carla uma grande parceira e amiga. Atualmente o Thiago é atendido também por uma psicoterapeuta chamada Vanessa, que o acompanha desde o início quando era tinha 3 anos e meio e também é sua amiga. Essas parcerias são muito importantes nas conquistas do Thiti. Na vida escolar ele está incluído em uma classe regular, no quinto ano e adora fazer capoeira na aula extra. Participa também de projetos esportivos para especiais: faz natação, atletismo e remo! E está incluido na aula de musculação, em uma academia! Minha mãe busca a inclusão sempre. Há uma semana fez sucesso na pista de dança da festa de 15 anos de um amiga! Gosto muito de dançar.
Nós procuramos olhar o Thiago como "O THIAGO" e não como "O AUTISTA" e acreditamos que isso faz muita diferença. Não olhamos limitações mas sim os potenciais que ele tem, como todo ser humano, e isso nos faz vivenciar conquistas e experiências muito especiais.
Quando entramos no mundo do Autismo liamos e ouviamos muitos estereótipos como: eles não gostam de toque físico, eles não reconhecem os familiares, ficam o tempo todo se balançando, etc. Ideias reforçadas também por filmes que mostram o Autismo limitado a essas questões. Mas não é só isso e muito menos apenas isso. Alguns comportamentos ele apresentava com maior intensidade no início (ficava nervoso quando estava ansioso, por exemplo) mas aos poucos aprendeu como lidar e amadureceu também. Atualmente ele ainda tem pequenos comportamentos mas é possível sinalizar para ele se controlar e logo tudo fica melhor. Há algum tempo ele fez Equoterapia (terapia realizada com cavalos) e é inesquecível uma cena em que ao cavalgar ele estava ansioso e repetia baixinho: "- Se controla... Se controla..."
O Thiago ama carinho. Eu brinco que ele é um "periquito" porque quando pede carinho a cabeça dele vai abaixando sabe? Igual a um passarinho. Sempre nos reconheceu e foi afetuoso. Ele é muito carinhoso! Quando percebe que alguém está triste ou se sentindo mal logo pergunta se está tudo bem e se vai melhorar, e aí começa a conversar como quem quer distrair e animar o outro. Ele ama esportes, em especial futebol e agora também automobilismo - acho que faz para se aproximar do pai, que é admirador de Formula 1. Pode ficar horas assistinho noticiários esportivos, internet ou jogos de computador. É a área de interesse dele e tem praticamente todas as informações decoradas! Sabe tudo.
Agora que está entrando na adolescencia tem se mostrado muito vaidoso - como todo adolescente! Ama usar relógios, anéis, pulseiras e comprar roupas. Quer estar sempre bonito com as mãos no bolso e tudo, fazendo pose.. rs. É um galã.
Na escola é super popular. Praticamente todos o cumprimentam com carinho, desde funcionários, alunos e pais de alunos. Ele é simpático, consegue cativar as pessoas facilmente.
Como irmã tive muita expectativa pois sempre desejei "ser irmã": levar ao mercado para comprar iogurte e biscoito, passear, ir na pracinha, brincar. No início tinha medo de não conseguir viver isso com o Thiti mas depois de um tempinho de terapia ele já conseguia se comportar socialmente, controlando sua ansiedade. Ambientes novos sempre foram assustadores mas quando explicamos onde vamos e para fazer o que, tudo fica melhor. Conversamos sempre. Na primeira vez que fui com ele ao mercado comprar iogurte eu quase chorei de emoção, porque era um momento muito esperado por mim.. e ele sorriu.
Hoje em dia conseguimos viver todos muito bem. Temos desafios mas todos são possíveis de serem administrados com carinho. Até ao estádio de futebol eu e meu marido já levamos o Thiti, algo que nunca poderia imaginar. Um espaço tão grande, com tantas pessoas, gritaria e agitação... e ele ama ir.
Resumidamente é isso: acreditamos no melhor, no potencial e no quanto cada um é especial por ser quem é, e não o rótulo que pode receber, seja ele qual for.

* Depoimento enviado exclusivamente para nosso blog
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Fabiana Martelotte - 25 anos - Rio de Janeiro/RJ
Thiago e Fabiana na patinacao no gelo