Depoimento: Meu irmão Thiago por Fabiana Martelotte
Meu nome é Fabiana e sou irmã de um jovem Autista: o Thiago, de 14 anos.
Bem, o que nos chamou a atenção foi que o Thiago começou a falar mas parou e em torno de 2 anos de idade ele começou a ler! Além disso gostava de programas comerciais de televisão e ficava o dia todo assistindo apenas isso. Lia pequenas palavras porque as ouvia na televisão e quando via escrito sabia quais eram. Na verdade minha avó sinalizou essas questões que considerou 'diferentes' para a idade dele e todos reparamos também. Começamos a buscar ajuda para descobrir se havia algo de especial.
Nessa caminhada passamos por alguns especialistas. No início uma Fono e uma Psicóloga nos marcaram com sua dedicação mas um Neurologista insistia em dizer que ele estava "em cima do muro". Essa explicação nos marcou bastante por não transmitir nenhuma orientação. Conhecemos então a Neurologista que até hoje nos atende: Dra. Carla Gikovate. Ela que nos comunicou o diagnóstico de Autismo Leve e consideramos a Dra Carla uma grande parceira e amiga. Atualmente o Thiago é atendido também por uma psicoterapeuta chamada Vanessa, que o acompanha desde o início quando era tinha 3 anos e meio e também é sua amiga. Essas parcerias são muito importantes nas conquistas do Thiti. Na vida escolar ele está incluído em uma classe regular, no quinto ano e adora fazer capoeira na aula extra. Participa também de projetos esportivos para especiais: faz natação, atletismo e remo! E está incluido na aula de musculação, em uma academia! Minha mãe busca a inclusão sempre. Há uma semana fez sucesso na pista de dança da festa de 15 anos de um amiga! Gosto muito de dançar.
Nós procuramos olhar o Thiago como "O THIAGO" e não como "O AUTISTA" e acreditamos que isso faz muita diferença. Não olhamos limitações mas sim os potenciais que ele tem, como todo ser humano, e isso nos faz vivenciar conquistas e experiências muito especiais.
Quando entramos no mundo do Autismo liamos e ouviamos muitos estereótipos como: eles não gostam de toque físico, eles não reconhecem os familiares, ficam o tempo todo se balançando, etc. Ideias reforçadas também por filmes que mostram o Autismo limitado a essas questões. Mas não é só isso e muito menos apenas isso. Alguns comportamentos ele apresentava com maior intensidade no início (ficava nervoso quando estava ansioso, por exemplo) mas aos poucos aprendeu como lidar e amadureceu também. Atualmente ele ainda tem pequenos comportamentos mas é possível sinalizar para ele se controlar e logo tudo fica melhor. Há algum tempo ele fez Equoterapia (terapia realizada com cavalos) e é inesquecível uma cena em que ao cavalgar ele estava ansioso e repetia baixinho: "- Se controla... Se controla..."
O Thiago ama carinho. Eu brinco que ele é um "periquito" porque quando pede carinho a cabeça dele vai abaixando sabe? Igual a um passarinho. Sempre nos reconheceu e foi afetuoso. Ele é muito carinhoso! Quando percebe que alguém está triste ou se sentindo mal logo pergunta se está tudo bem e se vai melhorar, e aí começa a conversar como quem quer distrair e animar o outro. Ele ama esportes, em especial futebol e agora também automobilismo - acho que faz para se aproximar do pai, que é admirador de Formula 1. Pode ficar horas assistinho noticiários esportivos, internet ou jogos de computador. É a área de interesse dele e tem praticamente todas as informações decoradas! Sabe tudo.
Agora que está entrando na adolescencia tem se mostrado muito vaidoso - como todo adolescente! Ama usar relógios, anéis, pulseiras e comprar roupas. Quer estar sempre bonito com as mãos no bolso e tudo, fazendo pose.. rs. É um galã.
Na escola é super popular. Praticamente todos o cumprimentam com carinho, desde funcionários, alunos e pais de alunos. Ele é simpático, consegue cativar as pessoas facilmente.
Como irmã tive muita expectativa pois sempre desejei "ser irmã": levar ao mercado para comprar iogurte e biscoito, passear, ir na pracinha, brincar. No início tinha medo de não conseguir viver isso com o Thiti mas depois de um tempinho de terapia ele já conseguia se comportar socialmente, controlando sua ansiedade. Ambientes novos sempre foram assustadores mas quando explicamos onde vamos e para fazer o que, tudo fica melhor. Conversamos sempre. Na primeira vez que fui com ele ao mercado comprar iogurte eu quase chorei de emoção, porque era um momento muito esperado por mim.. e ele sorriu.
Hoje em dia conseguimos viver todos muito bem. Temos desafios mas todos são possíveis de serem administrados com carinho. Até ao estádio de futebol eu e meu marido já levamos o Thiti, algo que nunca poderia imaginar. Um espaço tão grande, com tantas pessoas, gritaria e agitação... e ele ama ir.
Resumidamente é isso: acreditamos no melhor, no potencial e no quanto cada um é especial por ser quem é, e não o rótulo que pode receber, seja ele qual for.

* Depoimento enviado exclusivamente para nosso blog
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Fabiana Martelotte - 25 anos - Rio de Janeiro/RJ
Thiago e Fabiana na patinacao no gelo

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